Num lar, um velho professor passa o tempo a tecer recordações esfarrapadas, que vai depois espalhando pela intimidade de um diário, na ilusão de que a vida lhe possa revelar ainda algum sentido original.
“Ontem, morreu o meu padrinho. Assisti arrepiado à sua morte, que foi serena, e não foi outra a causa por que me arrepiei senão a de vir a ser a morte segunda de meu pai. Tentou falar-me do seu livro, mas não teve tempo.
Estou em casa, à espera de sair para o funeral.
Chove. Como há anos amiúde acontecia antes das barragens do Douro, a Ribeira está inundada. Também a sul, igualmente o Vale de Santarém sofre os excessos da água, longe da minha memória adolescente de Garrett, que não há por ali barragens que lhe valham todo o ano ou as não pode haver assim adolescentes.”