“Em ‘Não Conto’, a escrita ágil de Sérgio Almeida desafia o leitor a uma incursão num mundo grotesco e demencial, cujos pilares são o humor negro, e sobretudo o gosto pela deformação, a caricatura e o excesso. Com estas armas, a sátira, no seu afã demolidor, pouca coisa deixa de pé, a começar pelos costumes, pela vida familiar e pelo universo literário, e terminando nos discursos filosófico e político”. – José António Gomes
Do drama de um revisor de comboios que, à força de observar milhares de passageiros diários, se esquece dos contornos do próprio rosto, às memórias do célebre ditador A. H. narradas pelo seu bigode de estimação, “Não conto” é uma jornada sem retorno assegurado pelos meandros imprevisíveis mas sempre fascinantes da psique humana.
Ociosas, instáveis ou megalómanas, às personagens aqui reunidas não falta nenhum dos pecados capitais, com exceção do maior de todos: a normalidade.
“Não perguntem jamais a uma mulher capaz de arranjar-se em menos de duas horas ou com uma coleção de sapatos inferior a 100 pares se a vida tem sentido. Na melhor das hipóteses, o vosso corpo irá ser vitima de manifestações de vivo repúdio (…).”